Existe o beijo. Quente, voluptuoso, perdendo quem antes da boca o olhar uniu. Há um beijo especial em cada vida. Inesquecível. Imune à borracha temporal. É felicidade ter ao lado, meses e anos a fio, quem beija assim. Permanecendo «o beijo» intocado nos dias um a um, é laço que não engana – amor isento, na essência, de erosão.
Beijos. A este ou àquele. Ilusões estaladas. Amores que ficaram pelo caminho. Enganos. Beijos aos que são queridos por laços de família ou amizade são comuns. Fiéis. Dados e recebidos com gosto, mesmo se no instante não atentamos na benesse dos afectos partilhados. Beijos há esvoaçantes que enviamos por mail, sms ou telemóvel. Beijos voadores. Nem afloram o recpetor.
Beijoca é outra coisa. Húmida, peganhenta na pele. Por aqui ainda há beijocas. Só as mulheres para cima dos setenta os dão. Dos pêlos do buço espetados esperamos desconforto, mas para uma beijoca nunca estamos suficientemente preparados. As especialistas espalmam a boca na bochecha da vítima que enlambuzam. O embaraço é atroz. Apetece limpar a face no momento. Mas não. Durando a conversa de circunstância, é sentida a «coisa» a secar. Ouvir quem nos fala, nem pensar - não pela monumental seca do linguajar, mas pela falta de um lenço, de álcool ou água que nos livre daquilo que não deixámos de sentir. Os homens não beijocam, repenicam. Por vezes melhor que nós. E sei do que falo...
Beijinhos são... são... etéreas formas de estar. Mal afloram a face. Gesto simbólico que nada quer dizer. Mas é bom distribuir e receber beijinhos como quem apanha confeitos numa boda ou festa popular. “Beijinhos. Até depois!” ou “dá-lhe beijinhos meus.” Porém, numa noite enluarada, fresca, entre lençóis perfumados com alfazema, iniciar um périplo de toques suaves dos lábios pelo corpo amado da cabeça aos pés, numa dolência apetecida é redimir os beijinhos. Fornecer-lhes significado. Doces arrepios numa noite de verão.